quinta-feira, 4 de março de 2010

Cont. Filhos brilhantes Alunos fascinantes


PARTE A


Capítulo 2


Bons filhos se preparam para
o sucesso, filhos brilhantes se
preparam para enfrentar
derrotas e frustrações.




Romanov influenciou, pouco a pouco, muitos professores, entre os quais Sofia, a mudar seu estilo de aula. Não impunha suas idéias, mas as expunha. Sofia era uma professora de história, muito enérgica. Aos poucos, começou a se descontrair em sala de aula e levar os alunos a enxergar a vida além dos textos.
Certa vez uma aluna, Margareth, foi muito mal numa prova de matemática. Quando Sofia entrou na sala de aula, viu sua aluna abalada. Sofia suavemente perguntou-lhe o motivo:
— Fui péssima na prova — disse Margareth desanimada.
— Não desanime, não deixe sua frustração dominar você, domine-a. Faça dos seus erros uma oportunidade para crescer. Na vida, erra quem não sabe lidar com seus fracassos.
— Eu não consigo. Eu queria ser uma engenheira, mas vou desistir... — retrucou Margareth.
Diante disso, Sofia fez um passeio pela sua matéria e resolveu contar uma história no final da aula para animar sua aluna frustrada, bem como toda a classe, a transformar seus invernos em primaveras.


Um surdo que produziu belíssimas músicas

Um dos gênios da música, Beethoven, se deliciava ao som do piano. Sua genialidade musical alçava vôos como as águias sobre montanhas e penhascos. O jovem Beethoven não precisava de grandes somas de dinheiro para ser feliz, queria apenas uma audição finíssima e um piano para compor suas músicas.
Tudo parecia sem atropelos em sua vida. Entretanto, o grande compositor que voava sobre as mais altas montanhas da criatividade sentiu-se rastejar pelos vales mais profundos da ansiedade. O que parecia impossível aconteceu: Beethoven começou a ficar surdo. Certa vez, ao pressentir que não distinguia algumas notas, ficou perturbado. Tentava massagear seus ouvidos para ouvir melhor, mas não havia melhora.
Procurou ajuda, mas pouco a pouco seus ouvidos entravam num indecifrável silêncio. Quando seus amigos o chamavam por detrás e ele não os ouvia, entrava em crise. O mundo desabou sobre o gênio da música.
A música inspirava sua vida, encantava sua emoção, irrigava sua inteligência e acalmava sua ansiedade. A perda era irreparável. À medida que os sons ficavam distantes, Beethoven se distanciou do prazer de viver. Isolou-se, angustiou-se, abateu-se.
Os recursos médicos ineficazes o levaram a uma profunda crise depressiva. Seus pensamentos agitaram-se como ondas rebeldes num mar bravio. Sua emoção tornou-se um céu sem luar, uma manhã sem pássaros a cantarolar. O mestre da música perdeu o sabor pela existência. Nada, nem ninguém, o animava. Deixar de ouvir músicas e compô-las era tirar-lhe o chão para caminhar, o ar para respirar. Beethoven, assim, cogitou em desistir de viver.
Certa vez, num estado de desespero, ele colocou a cabeça sobre o peitoral do piano e gritou: "Não! Não é possível!". Ergueu a cabeça e começou a tocá-lo, mas nada ouvia. De repente, quando a emoção de Beethoven estava asfixiada e parecia não haver mais esperança, o gênio da música resolveu virar o jogo e te tornar o gênio da vida. Determinou deixar de ser vítima dos seus sofrimentos e lutar pelos seus sonhos.
Algo brilhante aconteceu. No momento em que todos pensavam que seus sonhos tinham sido sepultados pelo inquietante silêncio da surdez, Beethoven decidiu enfrentar suas limitações e superar sua condição miserável. Apesar de o mundo ter desabado sobre ele, escolheu sobreviver. Decidiu não ser escravo da surdez e de seu desânimo,
— Muitos deixam de acreditar na vida quando passam por crises emocionais, sofrem perdas, atravessam dificuldades e desprezos — disse a professora Sofia para a atenta platéia. E completou: — Mas, Beethoven, embora controlado por um forte sentimento de incapacidade, muito maior que o seu, Margareth, procurou superar-se. Procurou um sentido para a vida. Por incrível que pareça, a coragem e a sensibilidade dele o levaram a fazer o que ninguém jamais havia tentado fazer: compor músicas, apesar de surdo — falou enfaticamente a professora. Em seguida, continuou a discorrer sobre sua história.
Os amigos acharam loucura a atitude de Beethoven, fruto de quem está completamente derrotado e perturbado. "Beethoven deve estar delirando!", alguns pensavam. Parecia impossível.
Um surdo desejar compor músicas é como um cego desejar pintar uma paisagem. Loucura! Todavia, aconteceu algo inimaginável. Com uma garra incansável, aprendeu a transformar seu caos num ambiente de refinada criatividade. Beethoven aprendeu a ouvir o inaudível.
O mestre da música colocava os ouvidos sobre os solos e os objetos e ouvia as vibrações das notas que dedilhava ao piano. No começo, tudo parecia confuso, não distinguia as notas. Mas, à medida que treinou seus ouvidos, as vibrações começaram a estabelecer uma relação com as notas musicais arquivadas em sua mente, que, por sua vez, abriram os arquivos da sua memória, dirigindo, assim, sua inventividade.
Desse modo, o inacreditável começou a acontecer. Com indescritível habilidade, Beethoven compôs belíssimas músicas apesar da surdez. Foi nesse período que ele compôs uma das suas obras mais famosas: a 5a Sinfonia.
Após contar essa história, Sofia olhou atentamente para Margareth e depois para toda a classe e disse-lhes:
— Quando os sonhos nos controlam, os surdos podem ouvir melodias, os cegos podem ver cores, os derrotados podem encontrar energia para continuar. Quando não havia solo para caminhar, Beethoven caminhou dentro de si mesmo, não desistiu da vida, ao contrário, exaltou-a. Os sonhos venceram. O mundo ganhou.





Uma sociedade superficial

Ao terminar sua história, a professora comentou:
— A história de Beethoven ilustra uma das diferenças entre urna pessoa opaca e uma pessoa brilhante. Uma pessoa opaca é destruída pela dor, uma pessoa brilhante é construída pela dor. Infelizmente a maioria das pessoas piora à medida que sofre derrotas, perdas e decepções. Seu "eu", que representa sua capacidade de fazer escolha, não amadurece. Elas se tornam mais agressivas, ansiosas, irritadas, desprotegidas, infelizes. Entretanto, uma minoria se torna mais calma e serena.
Sofia mostrou que a história do gênio da música tem princípios que deveriam ser observados por todos os alunos. Ele sofreu, se deprimiu, viveu intensa ansiedade, pensou em desistir de tudo, mas houve um momento em sua vida em que teve de parar de se lamentar para tornar-se autor da sua história.
— E vocês, sabem virar o jogo ou são especialistas em lamentar-se?
Os alunos pensaram e perceberam que muitas vezes lamentavam-se. Em seguida, Sofia disse que o processo de superação de Beethoven foi lento, mas, por investir nos seus sonhos, ele encontrou liberdade em suas limitações, força na sua fragilidade.
— Não se coloquem como vítimas da vida. Não se posicionem como miseráveis sem sorte e sem apoio das pessoas. Caso contrário, serão sempre frágeis e inseguros. Estou perplexa com a fragilidade da geração Harry Potter — disse enfaticamente Sofia. Os alunos engoliram a seco essas palavras. Em seguida, ela acrescentou:
— Não estou criticando a saga de Harry Potter, estou criticando a falta de proteção emocional dos jovens que amam a fantasia, mas não sabem lidar com fatos concretos. Muitos não sabem atravessar crises, pedir desculpas, falar dos seus sentimentos. Alguns se desesperam quando a namorada os abandona, outros quando um amigo os deixa e ainda outros quando passam por uma frustração.
Margareth respirou profundamente. Percebeu que havia tomado a pior atitude, a de se sentir uma miserável, incapaz, diante de uma derrota nas provas. Percebeu que deveria ter uma teimosia saudável.
— Quem lamenta suas perdas, olha para os seus pés, e quem olha para os seus pés, tem o mundo do tamanho dos seus passos. Vocês precisam levantar a cabeça, olhar para o horizonte e lutar pelo que amam — completou a professora.
— A sociedade nos prepara para o sucesso e não para enfrentar os fracassos, professora — disse João Paulo, que era um garoto tímido que raramente expressava suas opiniões.
A professora Sofia ficou entusiasmada com sua participação e seu raciocínio. Por isso, inspirada em Romanov, a professora concluiu sua história escrevendo uma frase na lousa:

Bons jovens se preparam para o sucesso. Jovens brilhantes se preparam para as derrotas. Eles sabem que a vida é um contrato de risco e que não há caminhos sem acidentes. Portanto, têm consciência de que ninguém é digno do pódio se não usar suas derrotas para conquistá-lo.

Após escrever essas frases filosóficas na lousa, arrematou seu pensamento dizendo:
— Este hábito contribui para desenvolver motivação, ousadia, otimismo, paciência, determinação, liderança, capacidade de superar fracassos e principalmente inteligência para criar e aproveitar oportunidades. — E completou: — Despertem, queridos alunos! Como Beethoven, lutem pelos seus sonhos. Não tenham medo da vida, tenham medo de não vivê-la plenamente.
Os alunos não aplaudiam os professores. Mas ficaram tão envolvidos com o mundo das idéias de Sofia que não se agüentaram. Levantaram-se e aplaudiram-na vigorosamente.
Enquanto ouviam os sons das suas palmas, os estudantes se interiorizavam e num golpe de reflexão pensaram: só é digno dos aplausos quem aprender a lidar com humildade com as vaias que um dia receberá. Estavam aprendendo a pensar.


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